21.11.11

memórias.

O diálogo começou por escassear, começaram as conversas de conveniência, os problemas deixaram de ser partilhados, a preferência por outrem. A falta de saudade, a necessidade de estar com a pessoa, as palavras de alento, as palavras de carinho, tudo isso desapareceu. Tudo gradualmente.

Quase como uma competição, ou talvez não.

- Não me importei durante as primeiras semanas de silêncio, afinal, era difícil encontrarmo-nos para conversar, eram raras as vezes que nos encontrávamos. Mas aos poucos entrei em pânico, não tinha a outro alguém a confiar, nunca tive alguém que tivesse me dado amizade melhor, e do modo que o tempo passava, só sobrara isso: o Silêncio.

As cartas, os desenhos, as fotos, aos poucos pararam de aparecer, não porque eu quis, mas porque por pura maldade do destino, até as memórias começaram a ser corrompidas pelo tempo, e as certezas dos fatos se perderam, e só sobrou isto: O silêncio.
Não sabes como o ignorar sem explicar é aterrorizante, é o pior castigo a alguém, sumir de repente, sem saberes o porquê, nem as palavras mais rudes poderiam ter magoado tanto, por tanto tempo, porque a culpa fica subentendida, e eu fico me questionando "será que foi naquele dia?", "será que foi tudo verdadeiro?", “só estava ali por não ter opção”. E a cada dúvida a ferida se reabre. O silêncio é ferida que não cicatriza.
Durante tempos, muito mais do que se imagina esperar por alguém, esperei. O silêncio também ilude, "talvez tenha ficado com algum problema”. O silêncio não me permitiu encarar a realidade de frente, me fez ficar na espera, na vontade de uma última conversa.
Doeu, é, doeu muito, e não vou mentir que não dói, porque dói, principalmente agora, na hora em que reviro minhas memórias e consigo me dar conta do que ocorreu, qual dos milhares de erros que fui cometendo, a melhor desculpa pelo abandono, as minhas lembranças permitiram-me encaixar as peças, a minha desilusão me convenceu que foi assim: eterno, sem volta, sem desculpa.

Será que amei demais quem me amou de menos?

Se por um lado acredito que o sentimento continua lá, por outro acredito que esse sentimento se alterou. Quase como se fosse uma obrigação gostar porque tudo o que passámos, mas por outro não gostar porque mudámos tanto. Como se que tudo o que gostámos tanto em tempos é o que mais desgostamos agora.

Sim, dói, mas não é com a mesma intensidade de antes, o porquê, não sei ao certo, talvez porque cansou de doer. Sem saber o porquê, e agora que descobri que no fim, era o que eu mais temia, parece que o pior já passou, que o que eu tinha que sofrer, já sofri, não preciso mais me culpar disso. Desta amizade, agora, só posso me lembrar com carinho enquanto remexo nas muitas memorias que me restaram, com saudade, e até um pouco de, remorso, sentindo que fiz pouco, mesmo sabendo que fiz muito.

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